terça-feira, 11 de agosto de 2009

Kant sobre a faculdade estética


Já que o clima é de arte, vou postar, aos poucos, um trabalho que fiz sobre a Crítica da Faculdade do Juízo, de Kant, um exemplar do racionalismo que se aventurou dignamente pelas ideias empiristas. Conheço um pouquinho das três Críticas de Kant; essa eu achei bem interessante.

Breve introdução

Em sua terceira crítica, Kant analisa a faculdade do juízo estético, detendo-se primeiramente na crítica do belo e do sublime, para depois tratar da faculdade de juízo teleológica. O principal problema encontrado pelo autor será a relação de subjetividade e objetividade, assim como, o particular e universal quando se trata do belo. Portanto, Kant investigará a natureza da faculdade do juízo, ou seja, a partir do que julgamos algo, para depois pensar o porquê do julgamento, ou seja, a sua finalidade. É importante lembrar que esta não é uma crítica do juízo, mas sim, da faculdade do juízo; ou seja, não se investiga aqui o juízo racional e objetivo, mas somente a faculdade que tem o ser humano de julgar a beleza de algo. Kant define o belo em quatro momentos, a saber: segundo a qualidade, quantidade, finalidade e modalidade.

Complacência e desinteresse

Segundo Kant, o fundamento do juízo estético é somente subjetivo, pois parte do sentimento de prazer e desprazer. Quem sente é o sujeito que contempla o objeto. Porém, o juízo proferido é lógico, pois refere-se ao objeto. Por exemplo, quando digo que esta rosa é bela, estou partindo de uma sensação subjetiva, mas profiro algo objetivo sobre a rosa, a saber, que ela é bela.

Para determinar se algo é belo, não é necessário saber sobre a existência do objeto, mas somente como o ajuizamos em sua contemplação. Quer-se saber se a representação de determinado objeto é acompanhada em mim de complacência. A complacência pode ser entendida como uma espécie de empatia ou uma receptividade do gosto que é comunitária.

O juízo de gosto não pode, para Kant, estar ligado ao interesse – se há um mínimo interesse, não pode ser um juízo puro. O próprio Kant alerta para o fato de que o juízo não pode estar ligado a interesses para ser puro, porém pode ser muito interessante, produzindo interesse.

O agradável está ligado ao interesse porque ele suscita o deleite. Não somente aprovamos o que agrada, mas buscamos nele o gozo, sendo assim, uma fonte de inclinações. O agrado está assentado somente nas sensações subjetivas, por exemplo, o agrado ao observar uma flor. A complacência no bom também está ligada a interesses. O “bom para” e o “bom em si” estão ligados a alguma utilidade, tendo o primeiro utilidade como meio para um fim e o segundo como fim em si. Portanto, é necessária uma complacência com a existência dos objetos com essas denominações, ou seja, um interesse por sua finalidade.

Podemos notar que para designar algo como bom é preciso saber a sua finalidade. Nas palavras de Kant “preciso saber sempre que tipo de coisa o objeto deva ser, isto é, ter um conceito do mesmo” (KANT, 2005, p.52). Já com a beleza é diferente: quando denomino algo belo não estou interessado em seu fim ou existência. A complacência no belo exige reflexão e leva a conceitos, porém nunca os determinando. A principal diferença entre a complacência no agradável, no belo e no bom é a seguinte: “Agradável chama-se para alguém aquilo que o deleita; belo, aquilo que meramente o apraz; bom, aquilo que é estimado, aprovado, isto é, onde é posto por ele um valor objetivo” (KANT, 2005, p.54). Pode-se afirmar, portanto, que a única complacência livre e desinteressada é a que acontece no belo, pois nela não há interesse ligado aos sentidos ou à razão.

Pela investigação segundo a qualidade do juízo de gosto, Kant o explica como faculdade de ajuizamento de um objeto mediante complacência – quando denomina-se algo belo -, ou descomplacência – quando o objeto é julgado como feio. De qualquer forma, o juízo de gosto está desvinculado de qualquer interesse.


Fale mais sobre isso...

BAYER, Raymond. História da Estética. Lisboa: Estampa, 1979.

JIMENEZ, Marc. O que é estética?. São Leopoldo: UNISINOS, 1999.

KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

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