Escrever sobre os textos de Kant é estranho, pois depois de um tempo, se releio o que escrevi, pouco entendo. Reproduzo então somente algumas partes...
O belo, como um objeto de uma complacência desinteressada, não pode se fundar em inclinações ou juízos lógicos. Desse modo, quem julga está numa condição de liberdade em relação à complacência dedicada ao objeto, sem manter nenhuma condição privada. Portanto, é natural que a pessoa acredite que possui razões para possuir uma pretensão de complacência universal. O belo será nas palavras desse sujeito uma qualidade do objeto, tendo o seu juízo uma pretensão de validade lógica. Porém, a universalidade de um juízo estético não é alcançada com conceitos. Para Kant, essa universalidade não se funda em objetos, mas somente no sujeito.
Quando digo que algo é belo, não pronuncio “é belo para mim”. Simplesmente digo “é belo”, com a pretensão de que todos compartilhem da mesma complacência. Nesse caso, fala-se da beleza como propriedade da coisa, e por isso ela tem valor objetivo. É por esse motivo que no juízo do belo não se pode dizer que cada um tem seu próprio gosto, como acontece quando falamos de coisas somente agradáveis. Ao contrário dos juízos sobre o agradável, que se remete somente a sensações, no juízo estético não basta sentimento, pois ele é também um juízo reflexivo. O juízo estético tem a pretensão de ser válido para todos, ou seja, é um juízo subjetivo que almeja ser público.
Essa universalidade pretendida não pode ser lógica, pois não se baseia em conceitos de objetos, ela é estética porque não contém nenhuma quantidade objetiva do juízo, possuindo apenas quantidade subjetiva, que Kant chama de validade comum. O belo não está inteiramente no objeto, por isso não é possível expressar toda beleza por meio de juízos. Dito isso, sabemos que não pode haver nenhuma regra que me faça reconhecer algo como belo, e basta que outras pessoas também reconheçam a beleza, não sendo necessário que elas utilizem conceitos e explicações racionais.
“A beleza é a forma da finalidade de um objeto enquanto percebida sem a representação de um fim. É o formalismo e a aparência, o esquema, não o fim verdadeiro como na acção que parece ser ordenada para, em vista de qualquer coisa, e que, de facto, é ordenada sem mais: é a maravilha inútil” (BAYER, 1978, p.203).
A beleza livre não pressupõe nenhum conceito do que deva ser o objeto. Por exemplo, uma flor. Há nela uma finalidade natural, que, todavia, não é considerada quando julgada esteticamente. Se a flor é perfeita pouco importa, o que vale aqui é que ela apraz livremente e por si. Neste tipo de beleza julga-se simplesmente pela forma, podendo chamar, assim, o juízo de gosto como um juízo puro.
A beleza de um homem ou de uma casa pressupõe uma finalidade que determina o que devam ser, envolvendo então a idéia de perfeição. A beleza aderente é influenciada pela finalidade do objeto, prejudicando o juízo de gosto. Por mais que se tente disfarçar esse tipo de beleza, é impossível a desvincular da finalidade ou do conceito do objeto. Por estar ligado a conceito e finalidade este tipo de juízo não pode ser livre e puro, mas somente aderente e aplicado.
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