"Quando saia de casa
percebeu que a chuvasoletrava
uma palavra sem nexo
na pedra da calçada.
Não percebeu
que percebia
que a chuva que chovia
não chovia
na rua por onde
andava.
Era a chuva
que trazia
de dentro de sua casa;
era a chuva
que molhava
o seu silêncio
molhado
na pedra que carregava.
Um silêncio
feito mina,
explosivo sem palavra,
quase um fio de conversa
no seu nexo de rotina
em cada esquina
que dobrava.
Fora de casa,
seco na calçada,
percebeu que percebia
no auge de sua raiva
que a chuva não mais chovia
nas águas que imaginava."
Chuva Interior, Mário Chamie.
O poema e o poeta conheci essa semana, pelo filme A Via Láctea. Um filme que não conta uma história, mas acontecimentos e sentimentos cotidianos da vida urbana, o caos, a solidão. O trânsito congestionado, assaltado e surpreendido traduz o que no dia a dia acabamos por transformar nossas vidas. Cada um por si querendo avançar nesse mundo esgotado. Mas também encontramos nas paradas e nos motivos do movimento os laços de amor e empatia, as pequenas felicidades daqueles momentos bobos que são no final o que mais vale a pena, o gosto de se fazer o que se gosta com quem se ama e aos que de algum modo nos tocam.
"Seguir em direção a tudo que amamos" se torna ainda mais intenso quando ao final do filme quando voltamos à nossa realidade.
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