quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Problemas da Filosofia de nosso tempo


         A partir da leitura dos textos de Stegmüller e Nunes, junto a outras leituras realizadas ao longo do curso de Filosofia, bem como a minha perspectiva como pessoa, posso dizer que os problemas da filosofia hoje refletem os resultados de acontecimentos históricos ocorridos no início e metade do séc. XX, como as segundas guerras mundiais e o advento da tecnologia. Os filósofos de hoje analisam as conseqüências sociais e científicas de acontecimentos tão poderosos, tentando tecer assim o que é importante para uma humanidade que hoje se encontra entre a total falta de regras (o tudo vale) e conhecimentos e leis cada vez mais rigorosos.  Neste ponto entra o destaque de Nunes em relação às duas espécies de contemporaneidade: uma estática e horizontal e outra dinâmica e verbal. Temos assim a sincronia e diacronia de tempos; alguns problemas de nossos dias são contemporâneos aos do início do séc. XX, mas algumas abordagens e perspectivas em relação a eles são diferentes.
            Uma característica importante é que do mesmo modo que a ciência deixou de se concentrar na filosofia durante a modernidade, fragmentando-se e especializando-se em diversas áreas, a filosofia segue o mesmo movimento, recebendo contornos distintos nos seus problemas e modos de abordagem: perde-se até mesmo uma definição concreta do que seja filosofia. As suas correntes podem dialogar com as ciências naturais e exatas (problema do valor e estrutura do conhecimento científico), com as ciências humanas (existência social e individual; a validade da cultura, da sociedade e da história). A filosofia pode também ser um diálogo do sujeito consigo mesmo, a partir da questão da consciência do sujeito nas suas relações com o mundo, na sua existência.  Esses temas recebem tratamentos distintos, mas também aparecem interligados, como na bioética, por exemplo, que caracteriza-se como uma área de investigação sobre problemas éticos que surgem na sociedade atual, como o uso de nanotecnologia ou de células tronco; assim como dá novos olhares a problemas que já existem a mais tempo, como a eutanásia ou o aborto. Na bioética entrelaçam-se problemas de ciência e tecnologia, ética e existência. É interessante que não são só filósofos que fazem bioética, mas também cientistas, religiosos, juristas, grupos de minorias e médicos. Com isso, os comitês de bioética são compostos de forma multidisciplinar.
            Esse para mim é o destaque para os problemas da filosofia hoje. É na bioética que se encontram analisados uma parcela importante dos problemas da sociedade. Porém, a filosofia não se reduz a isso. Hoje há releituras do racionalismo com auxílio da neurociência, investigações sobre os seres humanos pela psicologia evolucionista, conhecimento da linguagem humana com as lógicas alternativas e a pragmática; as relações entre ser sujeito e ser indivíduo em uma sociedade pós “11 de setembro”, marcada pelo excesso de consumo e virtualidade das relações (as análises de uma sociedade hiper moderna), a política que surge na era da cibernética e da cada vez mais tênue linha entre vida privada e legislação.
Ao contrário do que afirma Stegmüller, de que seria desejável “reservar a palavra [filosofia] para uma atividade de algum modo rigorosamente definida” (p. 14), acredito que o estudo e a atividade filosófica só têm a ganhar em revitalização, campo e formas de abordagem, mesmo que muitos profissionais neguem que o que seu “vizinho de porta” faça seja de fato filosofia: enquanto houver pessoas interessadas na filosofia, dedicando seu tempo e seus esforços a um problema e transformando-os/relendo-os como questões de seu tempo, sempre haverá espaço na filosofia; e, é claro, a tão saudável transformação de ideias.
*texto escrito para a cadeira de Filosofia Contemporânea

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