quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Apessoando-se.



Texto escrito a partir do desafio de Martha Medeiros e Maggie Sander.

Sou difícil de começar, então parto da estação: sou primavera, sempre fui, a cada ano confirmo.

Sou café da manhã demorado, com cheirinho de mel no pão torrado, com um toque de café preto. Fesco, claro!

Sou mamão com aveia, banana com granola, suco com o que tiver.

Sou do chima solito pela manhã, e do chima companheiro a qualquer hora.

Ninguém acredita, mas digo que sou bolsista e trabalho. Adoro o que faço, mas nem sei direito o que é, muito menos explicar.

Sou Erico Veríssimo de coração, Saramago de cabeça, Hume de filosofia, Kant de brincadeira. Sou Bakunin de utopia e Quintana cotidianamente. No fundo sou Peanuts, e uma Mafalda bem mais contida.

Sou filme em qualquer lugar, menos no computador. Sou Seinfeld e That´s 70´s show, sou Big Bang Theory. Sou blockbusters para os outros, cinema alternativo e TVE para mim.

Sou ave, cachorro, tartaruga, mar, céu, ar, terra. Não sei ser algo único da natureza, sou toda ela. Sou brincar na lama, tomar banho de chuva, pular cachoeira, rolar na grama. Não tenho como evitar, adoro cachorro, mas sou gato. Sim, sou contraditória como todos os humanos. Sou lagartixa. Volúvel demais.

Sou preguiça depois do almoço, preguiça de tomar banho, preguiça de acordar. Sou a economia em pessoa, menos ao fofocar.

Sou vinho rose, sou cara lavada, cabelo nem tanto. Gosto tanto da minha cor que sou filtro solar 30, chapéu e sombra. Sou da praia da calmaria, do banho de mar, de ver o sol nascer e comer crepe. Ah! Sou doce, doce e doce.

Sou sorvete de uva, negrinho de colher, pipoca de panela; doce. Mas não me dê café com açúcar, sou também do equilíbrio.

Não sou do churrasco, mas sou gaúcha no sentido amplo; não sou apenas do Rio Grande do Sul, sou de Colônia, da erva pura folha, do monte caído. Dançar TNT até não se aguentar mais.

Sou das Cordilheiras dos Andes, dos sebos, dos brechós, das flores e hortas. Sou de tudo isso junto ao mesmo tempo.

Não sou estrela de rock, não sou genial, muito menos sábia. Não sou cool, cult, nerd, militante. Mas também não sou careta, poser, beatnik, bitolada. Uso, mas não gosto de rótulos e estereótipos.

Sou do imanente; tiro o sentido da vida na aceitação de que vivê-la é o seu sentido. Não tenho fé, mas não sou intolerante. Sou tudo o que escrevi, mas talvez não tudo. Certamente tudo que sou não escrevi. Se sou mentirosa? Não, apenas um pouco tímida e inacabada.

Nesse meio tempo já fui tanta coisa mais... Sou risada interna para piadas, e demora em compreendê-las. Sou dificuldade em sorrir em fotos, e jogos de tabuleiro. E por ai vai, os íntimos que sabem mais! O bacana dessa atividade é voltar-se a si, bem no clima do post anterior.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Leitura de verão... Divã, de Martha Medeiros



Engraçado eu me motivar a ler um livro com esse nome, mas há dois culpados: eu gosto da autora e gostei do filme. Mercedes é uma mulher de meia idade que ainda não achou seu "eu"; e voltando-se a si, parte em sua busca, usando a boa e velha verbalização. É uma jornada pessoal, existencial.
O que me trouxe identificação foi a sua descoberta> quis tanto encontrar-se que se viu nos outros, na convivência que dá graça a vida. Pelas diferenças, assumimo-nos, pelas igualdades, nos fortificamos. Nas risadas compartilhamos e nas confissões nos ligamos. Deve ser por isso que a saudade é tão devastadora; uma parte do que nos faz ser, não está.
Como se trata de alguém expondo e construindo ideias, Mercedes(ou Martha) fala sobre medos, família, sexo, sociedade... Enfim, dos montes de pensamentos que povoam nossas mentes. A seguir algumas partes deliciosas:

“Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém, traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo”.

“Alguém um dia disse que o homem está condenado a ser livre, acho que foi Sartre. Tem sido dilacerante para mim aceitar que a vida sem laços é a única liberdade possível. E se não for? E se Sartre estiver redondamente enganado, e a liberdade for, ao contrário, a mescla com outras vidas, e se a liberdade for o autoconhecimento gerado pela convivência, não pela reclusão, e se tudo o que eu li e vivi até hoje foi desperdiçado por essa minha busca idiota por uma verdade soberana?”

“Queria poder dizer a essa mulher de pernas cruzadas e costas eretas que se ela fosse realmente minha amiga estaria estirada no sofá, com as pernas em cima da mesinha de centro e pedindo que eu colocasse um disco. Que se ela fizesse parte do meu mundo não estaria essa echarpe rosa-bebê nem teria exagerado tanto no perfume, e muito menos falaria o português correto.”

“Eu vejo esse pessoal com piercing na língua e na sobrancelha e me espanto com a facilidade com que eles expressão seu inconformismo, mas é um conformismo padronizado, com fotos publicadas em revista de moda. Fica datado, vira registro de época, e o que tanto os inconformou acaba sendo deixado em segundo plano. Se eu pintasse meu cabelo de rosa-choque eu me sentiria a mais careta das mortais. Eu sou rosa-choque por dentro.”

[...] A menina tem jeito, precisa apenas deixar de se levar a sério. Tem 20 anos apenas. O Renato, 21. A modernidade os alcançará lá adiante, quando não estiverem mais atrás disso.”

“Lopes, que liberdade boa essa de se desresponsabilizar pelo próprio personagem[...] A liberdade de que falo é aquela de tentar ser aquilo que ainda não tentamos”

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Unindo desenhos animados com mitologia

Esse texto eu escrevi no meu primeiro semestre do curso de filosofia. Ele devia ser um artigo de divulgação destinado à crianças, do tipo encontrado na revista Ciência Hoje das Crianças.

Mitologia Grega

Você já imaginou como era a vida das crianças bem antes de Cristo? Certamente, elas não ligavam a televisão para ver desenhos animados. Como? Não havia historinhas então? Calma! Existiam muitas histórias, que eram contadas de pessoa para pessoa.

Sabe o desenho “A Pequena Sereia”? Lembra do Tritão, o pai de Ariel? Ele já existia naquela época, nos mitos contados por gregos. Tritão era um deus marinho, representado por cabeça e tronco humanos, e cauda de peixe. Era filho de Poisedon, deus supremo dos mares. Agora pense no pai de Ariel. Ele não era o rei do mares, com uma cauda enorme de peixe?

Você também deve conhecer “Os Cavaleiros do Zodíaco”, desenho repleto de mitologias. Cinco guerreiros guiados pelo poder de uma constelação, com a missão de proteger Saori, reencarnação da deusa Atena (deusa da guerra justa e da sabedoria), enfrentando diversas batalhas, como a de Hades, por exemplo. Hades, no desenho, é o senhor das trevas, que concedia corpo físico para os mortos. Na mitologia grega, ele era o deus dos mortos. Algo em comum?

A mitologia, nesse caso, a grega, inspira e sobrevive em desenhos animados, filmes, peças de teatro e brincadeiras. Isso porque os mitos são uma forma mágica de explicar como e porque a realidade é a existente. O homem primitivo situava-se no mundo e encontrava razões para seus atos através deles. Para a pergunta de onde viemos, apresentavam a cosmogonia. Ao ver o mar agitado, diziam que Poisedon estava zangado. Ao querer explicar o amor, surgia Eros, lindo, irresistível, ignorante do bom senso. Segundo Maria Helena Martins, as raízes do mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na realidade pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. Afirma também que “o mito não é resultado de delírio, nem de uma simples mentira. O mito ainda faz parte da nossa vida cotidiana, como uma das formas indispensáveis do existir humano”.

Então, na próxima vez que você for para frente da telinha, preste atenção em como os desenhos tratam a realidade. E quando ouvir um nome estranho, pergunte para seus pais, para a professora ou para os livros, se esse personagem não foi inspirado por alguma lenda antiga. São valores e visões que ainda permeiam os dias atuais, deixando claro para nós que a tecnologia não inventa histórias, somente as reproduz. A mente humana cria novas máquinas, mas ainda se apóia em mitos anteriores ao cristianismo. A mitologia faz parte das bases de nossos valores e crenças, portanto, do nosso cotidiano.