terça-feira, 7 de julho de 2009

Alguns comentários acerca da dificuldade de formalizar aspectos da linguagem informal

Desde a sistematização da lógica por Aristóteles até a sua reformulação pelos matemáticos no séc. XX, ela é usada como um instrumento que clarifica argumentos. Um dos âmbitos da lógica é, justamente, analisar argumentos conforme as regras lógicas, na busca por uma linguagem mais precisa. Nesse sentido, a formalização de argumentos da linguagem natural permite a análise de longas cadeias argumentativas, em que inferências não-válidas podem passar despercebidas.

Mas a formalização tem seus limites. Nesses encontram-se, por exemplo, o problema de como lidar com o tempo verbal ou a vaguidade da linguagem informal. As reações aos problemas da formalização de determinados aspectos da linguagem informal são diversas. Susan Haack, em Filosofias das lógicas, enumera sete, a saber:

  1. Delimitação do problema da lógica: os aspectos da linguagem informal que não se aplicam à lógica clássica são excluídos; não são levados em conta na formalização.
  2. Paráfrase nova: adequação da linguagem informal à linguagem formal (ajusta-se a sentença para que possa ser formalizada, mantendo-se, desse modo, o aparato clássico).
  3. Inovação semântica: o aparato clássico ainda é mantido, porém, modifica-se a interpretação dos símbolos.
  4. Lógica ampliada: introdução de novos símbolos.
  5. Lógica restrita (ou lógicas alternativas): mudança e/ou introdução de novos axiomas, por exemplo.
  6. Contestação dos metaconceitos clássicos: inovação no nível dos conceitos metalógicos, por exemplo, o conceito de verdade.
  7. Revisão do âmbito da lógica: proposta de mudança do papel da lógica. Os intuicionistas, por exemplo, consideram a lógica como secundária à matemática, dependente dela.

Para o problema do tempo verbal, Haack descreve a proposta de Quine (inovação semântica) e a de Prior (lógica ampliada). Já para lidar com a vaguidade da linguagem, apresenta a lógica difusa de Zadeh, cuja proposta acarreta na revisão do âmbito da lógica. Para todas as propostas, Haack coloca suas críticas, principalmente para a lógica difusa de Zadeh, em que os ganhos por aceitá-la são duvidosos.

Ao que me parece, as tentativas de Quine e Prior são úteis quando a formalização do tempo verbal é realmente necessária para a análise de um argumento. Já Zadeh trabalha com graus de propriedades e de verdade, mas não dispensa a necessidade de precisão de que grau exatamente se fala, o que demanda muito trabalho de definições; a lógica deixa de ser um instrumento de clarificação. Parece que Zadeh quer alcançar racionalmente os aspectos não racionais da linguagem informal. Esta não é só razão, pois contém antecipações e reduções por parte dos ouvintes e falantes. Justamente por ser uma manifestação humana, não pode ser inteiramente formalizada.

Fale mais sobre isso:

HAACK, S. Filosofia das lógicas. São Paulo: UNESP, 2002.

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