“o professor, ou professora, é uma pessoa que deseja esta responsabilidade de criar um espaço de convivência, este domínio de aceitação recíproca que se configura no momento em que surge o professor em relação com seus alunos, e se produz uma dinâmica na qual vão mudando juntos.”
Humberto Maturana
A relação professor-aluno é aspecto fundamental para a aprendizagem, pois como protagonistas do processo de aprendizagem, e como seres humanos, motivados por sentimentos e sociabilidade, a relação que estabelecem decide o interesse dos alunos pela aula, ou seja, pela sua própria experiência de aprendizagem. Que o aspecto afetivo é importante para essa relação, sabemos desde que entramos na escola, quando o professor preferido era aquele que nos fazia sentir-nos seguros e nos encorajava a lidar com os variados problemas com que um aluno se depara na escola; enfim, aquele professor que nos fazia sentir bem.

Entretanto, a afetividade não é o único laço da relação professor-aluno. Cunha (1998) coloca que o posicionamento do professor em relação à sua área de conhecimento, bem como à sua prática, é decisivo ao modo que os alunos o percebem. Ou seja, os alunos podem até gostar do professor que é apenas “bonzinho”, mas admiram como um bom professor aquele que estimula o pensamento, é aberto a indagações e deixa transparecer o gosto que tem pelo que trabalha, valorizando assim os alunos e o seu trabalho.
Outro aspecto que permeia a relação professor-aluno é o da ideologia dominante na sociedade e na escola. A escola, como instituição social, é determinada pela visão social que se tem dela. Sua função, de que classe social vem seus alunos, a importância do professor dentro dela e outros fatores modelam o modo como a escola funciona. O professor, dentro de determinada escola, de determinada área de conhecimento e de determinado compromisso social, muitas vezes, foca-se em um aspecto, enquanto, na realidade, todos constituem sua prática. Por fim, Cunha ressalta que é importante o professor ter sempre em mente a sua trajetória de vida, o que contextualiza sua pessoa. A prática do professor não é algo que pode ser separado do resto de suas experiências; elas constituem sua postura e prática.
Os três aspectos que Cunha coloca como principais norteadores da relação professor-aluno definem o planejamento de aula — e, por que não, a opção ou não de realizá-lo. O planejamento não é, portanto, nem acabado, nem neutro. Nesse sentido, Lopes (1990) afirma que a partir da noção de que o professor não é neutro na sua prática, ou seja, quando aceita que suas ações têm determinadas conseqüências sociais, sua prática pode voltar-se para envolvimento e mudanças. Quando isso acontece, o aluno percebe um professor que não é indiferente, e aquela sala de aula passa a significar algo na vida dos que a utilizam. David Hume, no séc. XVII, a partir da observação dos costumes humanos, já frisava a importância do sentimento para a motivação. Afirma ele que um mesmo evento, descrito de diferentes formas, provocam distintos resultados. Se os fatos são descritos friamente, convencem em veracidade, mas não despertam a paixão. Já, quando descritos com figuras e emoção, provocam simpatia (no sentido de sincronia de sentimentos) em cada coração humano.
Acredito que o professor desenvolve a sua relação com os alunos na medida em que a vivencia, mas ter noção da realidade social e escolar e do que o constitui como ser humano e como profissional otimizam essa experiência. Vale aqui o que Larrosa fala sobre a experiência:
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para escutar, pensar mais devagar [...] suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação (2002, p. 24)
Mas, afinal, porque falo da relação professor-aluno em um texto cujo título remete à organização do ensino? A relação que professor e aluno estabelecem é definida pelos aspectos apresentados, mas define, por sua vez, o formato que as aulas tomarão. Pois não é somente o sujeito professor que define uma aula, mas também os alunos, que mudam a cada turma e a cada ano — e durante o ano. A organização do ensino se faz, portanto, sob múltiplos circunstâncias, entre elas, a relação professor-aluno.
CUNHA, Maria Isabel da.
HUME, David. 2004. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. São Paulo: UNESP.
LARROSA, Jorge. 2002. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista Brasileira de Educação.
O final da frase de H. Maturana pode ser para mim a plenitudo, nas atividades de professor. "... vão mudando juntos". É tudo o que queremos, como professor e até arisco a dizer a maioria dos alunos. Se realmente queremos viver a liberdade curricular, ou do ensino através do mecanismo de construção do conhecimento, seja de modo individual ou institucional, esta atitude é fundamental. E isto com certeza não pode ser somente centrado em um superman, mesmo sendo ele a escola, mas sim através dos atores: professor alunos; ou sociedade escola, atuando de maneira respitosa e desafiadoramente recíprocra. Portanto o conmhecimento "trafegando" em no mínimo duas vias, entre você e eu.
ResponderExcluirAceitar as experiências obtidas, por qualquer um dos atores em outros ambiente ou escolas ou países. Possibilitar o avanço ao desconhecido e se isto for "realizado junto" teremos alcançe a superação.
Para isto devemos acreditar no outro e a cada momento, seja entre pessoas ou instituições, permitir a troca, cada qual no seu contexto social e geográfico.