domingo, 5 de julho de 2009

Palavras soltas... De deseo somos

De deseo somos


La vida, sin nombre, sin memoria, estaba sola. Tenía manos, pero no tenía a quién tocar. Tenía boca, pero no tenía con quién hablar. La vida era una, y siendo una era ninguna.


Entonces el deseo disparó su arco. Y la flecha del deseo partió la vida al medio, y la vida fue dos.
Los dos se encontraron y se rieron. Les daba risa verse, y tocarse también.


Eduardo Galeano, em Espejos


Palavras soltas...



A sociabilidade e o desejo garantiram a sobrevivência de nossa espécie. Nosso interior é tecido durante a vida por meio das nossas experiências; experiências que compartilhamos com outros. Cada um tem sua personalidade, mas ela não seria possível sem o desejo de pertencimento a grupos, sem a convivência com o que nos desperta prazer, sem o outro que é o nosso espelho. Não existe um “eu” puro e imaculado, pois o eu é intersubjetivo, fruto de instintos como o desejo.

Sabemos que a convivência tem seus percalços, mas que também é prazerosa. Galeano, ao iniciar sua história quase universal, reconstrói belamente a importância do outro para a vida.


A propósito, vale citar Darwin, na sua Autobiografia:

"[...] As sensações prazeirosas, por outro lado, podem continuar por muito tempo, sem nenhum efeito depressivo; ao contrário, elas estimulam o sistema inteiro a um aumento da ação. Daí haver sucedido que a maioria ou a totalidade dos seres sensíveis foi desenvolvida, através da seleção natural, de tal maneira que as sensações prazeirosas servem como seus guias habituais [...]" (200, p. 77)

Não é a toa que Galeano notou que Darwin, além de trazer tartarugas de sua viagem pela América, trouxe perguntas, muitas perguntas.

Fale mais sobre isso:

DARWIN, C. Autobiografia. Rio de JaneiroContraponto, 2000.

GALEANO, E. Espejos: una historia casi universal. Buenos Aires: Siglo XXI Editores & Siglo XXI Iberoamericana Editora, 2008.


2 comentários:

  1. Martin disse
    Quando li esta parte do texto me lembrei do meu professor o Dr Pe hauser, cientista internacional da escola austro-hungara no nivel de Timbergen; Lorenz, Stressman ...
    Em uma reunião com vários pensadores e de várias áreas, todos focados em desenvolver um texto sobre o queera pesquisa. Imaginem, cada qual na sua "ciência" se manifestando com as seus argumentos técnicos e persuasivos... hauser se levantou e com o giz na mão desenhou no quadro um ponto de interogação gigante e exclamou: "pesquisa é responder perguntas, ponto final."
    Ainda bem que Darwin voltou com muitas perguntas.

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  2. Realmente, as perguntas são fundamentais para a busca do conhecimento. Perguntamos por que sentimos curiosidade, por que nos interessamos por coisas específicas. E os interesses são diversos, assim como o modo de olhar para o objeto e as respostas fornecidas.

    Hoje pesquisar é também profissão, por isso tanta determinação para defender o modo como se trabalha. É preciso cuidar para que as perguntas não sejam sobrepostas pela vaidade; que a curiosidade e o crescimento proporcionado por ela sejam constantemente reavivados.

    Obrigada pelo comentário. Conheci pouco o Pe. Hauser, mas vejo que foi um grande homem

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